Monday, February 26, 2007

Quando a Arte vira Rock, Parte LXV



"Maria Madalena", de Pedro de Mena, e a cantora Patty Smith.

Saturday, February 24, 2007

Quando a Arte vira Rock, Parte LXIV



Escultura de Cristo, de Xawery Dunikowski, e o cantor Iggy Pop.

Thursday, February 22, 2007

Quando a Arte vira Rock, Parte LXIII



"Sculptor E.D. Nikiforova-Kirpichnikova", de Anna Golubkina, e a cantora PJ Harvey.

Wednesday, February 21, 2007

Fatboy Slim, Richard Feynman e o Carnaval





Não gosto de Carnaval. Tenho meus motivos. Aos seis anos, minha madrast..., digo, minha mãe me travestiu de dançarina de rumba. E me despachou para o Sport Club Ilhabela. Lá, após ser pisoteada por uma manada de gente suada e ensandecida, jurei nunca mais tomar parte desse ritual selvagem. Jamais me arrependi. Mas não implico com aqueles que curtem (só com o Fernando, porque ele tem obrigação de me aturar, hehe). E até admiro a alegria e disposição dos gringos que cruzam a linha do Equador para ouvir batucada, passar calor e dançar com a desenvoltura de um ganso.
Mas há gringos que mandam muito bem! Neste ano, no Carnaval da Bahia, ninguém foi mais fotografado do que o inglês Norman Cook. Sorrindo, pulando, rebolando e tocando....picapes eletrônicas! Cook não é sambista, passista, ritmista. É DJ que mescla house, acid, funk, hip hop, electro e techno. Egresso do Housemartins, banda pop dos anos 80, o ex-baixista adotou a música eletrônica e, a partir de 1996, passou a se apresentar como Fatboy Slim. Colou. É um dos DJs mais populares do mundo. Tão popular e aceito que sua platéia não é apenas formada por clubbers. Gente normal lota praias para vê-lo (um dos maiores sucessos do DJ foi o álbum "Live On Brigthton Beach"). Tomado por tamanha animação, o branquelo inglês, repetindo a dose do ano passado, enfiou suas camisas de estampas berrantes (de fazer inveja ao Agostinho da "Grande Família") na mala, voou para o Nordeste do país e subiu no trio-elétrico. Acompanhado por Daniela Mercury, sampleou músicas de Jorge Benjor, Michael Jackson (!) e criou uma espécie de samba do gringo doido, satisfazendo a galera. Gosto não se discute (lamenta-se).
Se é engraçado ver um DJ inglês cultivando tamanha paixão por Carnaval....imagine só quando o gringo serelepe é um cientista. Um físico famoso, de genialidade comparada à de Einstein, também contemplado com um Prêmio Nobel.
Richard Phillips Feynman nasceu em Nova Yorque, em 1918. Estudou no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e formou-se em Física. Ph.D. pela Universidade de Princeton, foi designado para trabalhar no Projeto Manhattan, em Los Alamos, Novo México. Era o projeto secreto financiado pelo governo americano e chefiado pelo cientista Robert Oppenheimer que reuniu químicos, físicos e engenheiros renomados para o desenvolvimento de armas nucleares. Muitos deles, idealistas e convencidos pelo exército de que a Alemanha Nazista avançava nas pesquisas nucleares, aceitaram o desafio de criar bombas atômicas. Feynman foi um desses cientistas. Mal sabia ele que um dos aparatos nascidos nos laboratórios americanos, a bomba de urânio apelidada de "Fatman", iria ser lançada sobre a cidade de Nagazaki, no Japão.
Richard Feynman lecionou na Universidade de Cornell, no Caltech e, anos mais tarde, descobriu o motivo da explosão do ônibus espacial Challenger (a razão foi um erro primário: lançamento da nave em um dia de muito frio. Anéis de borracha que deveriam se expandir...se contraíram). Mas Feynman, um crânio ambulante, estava longe de ser um nerd bitolado! O físico, mulherengo de primeira, adorava dançar. Foi testemunha de defesa em processo movido contra o dono de uma boate de topless (testemunha e manchete dos jornais da época: "Professor de Física do Caltech vai aos shows de topless seis vezes por semana"). Adorava brincar. Em Los Alamos, nas horas de folga, aprendeu a arrombar cofres. Testava sua habilidade de decifrar códigos nos cofres que guardavam a papelada sigilosa, enlouquecendo e apavorando seus colegas cientistas e até mesmo os militares responsáveis pela segurança das informações. E Feynman adorava uma batucada. Tocava bongô e tambor. Apaixonado por dança, batuque, moças peladas e homem de espírito jovial....logicamente, aterrissou no Brasil. Na década de 50, o físico morou e trabalhou meses no Rio de Janeiro. Na cidade maravilhosa, sua maior dificuldade não foi adaptar-se ao clima ou ao modo de vida. Foi aprender a tocar "frigideira" decentemente, para não fazer feio no bloco de Carnaval do qual era integrante da bateria. Anos depois, já Prêmio Nobel de Física em 65, voltou para o Carnaval a convite do governo do Rio de Janeiro. Destacado como "celebridade". Posou para fotos, feliz da vida, ao lado da Miss Brasil (melhor do que dividir flashes com Daniela Mercury). Na verdade, a homenageada do Carnaval carioca deveria ter sido a atriz Gina Lollobrigida, que recusou em cima da hora. O secretário de turismo lembrou-se de Feynman, que fez piada quando soube que havia sido um "reserva": "...tiveram essa idéia maluca de substituir Gina Lollobrigida pelo professor de física! É desnecessário dizer que o secretário fez um trabalho tão ruim naquele carnaval que perdeu seu cargo no governo".
Em comum, o DJ Norman Cook e o físico Richard Feynman (já falecido) pouco têm. Mas esse pouco é muito: simpatia, simplicidade, alegria, espírito livre e criativo. A obra de Fatboy Slim dá para conferir nos youtubes da vida. A obra de Feynman, para sorte dos leigos, não se limita apenas aos estudos de Física. Dois livros leves e divertidos contam sobre a vida colorida do espevitado cientista: "O Arco-Íris de Feynman", de Leonard Mlodinow e o hilário autobiográfico "O senhor está brincando, Sr. Feynman!/As estranhas aventuras de um físico excêntrico". Esse, li durante o Carnaval. Porque Carnaval, pra mim, só pela TV. Ou através dos olhos de quem realmente gosta...

Saturday, February 17, 2007

Quando a Arte vira Rock, Parte LXII




Johann Gottfried Schadow, Self-Portrait, e Gavin Rossdale, vocalista do Bush.

Thursday, February 15, 2007

Quando a Arte vira Rock, Parte LXI



"Adam", de Tilman Riemenschneider, e Melissa Auf Der Maur, ex-baixista do Hole e do Smashing Pumpkins.

Saturday, February 10, 2007

Quando a Arte vira Rock, Parte LX



"The Golden Chair", de Alice Pike Barney, e Helena Marnie, vocalista do Ladytron.

Wednesday, February 07, 2007

Toulouse-Lautrec & The Cramps



"Ooh you look good/ooh you smell good/ooh you taste good/like a bad girl should." ("Like a Bad Girl Should", The Cramps)
La Goulue ("A Glutona"), Yvette Guilbert, Jane Avril, Poison Ivy ("Erva Venenosa), Miriam Linna, Candy del Mar.
As três primeiras, artistas de cabarés parisienses em funcionamento na última década do século XIX. Duas vedetes e uma cantora (Guilbert) celebrizadas pelas telas e cartazes do pintor francês Henri de Toulose-Lautrec (1864-1901). As demais, respectivamente guitarrista, baterista e baixista do The Cramps, explosiva banda de punk e rockabilly.
Toulouse-Lautrec nasceu nobre, filho de condes. Seus pais eram primos-irmãos, o que talvez explique a causa da doença óssea que impediu o crescimento normal do rapaz. Lautrec era muito baixinho, pernas e braços curtos. Apaixonado por pintura, Toulouse-Lautrec largou a pacata vida na propriedade aristocrática de sua família e....caiu na balada em Paris. E naquela época, a melhor balada da metrópole era o lendário Moulin Rouge, mistura de cabaré e prostíbulo por onde circulavam vedetes, homens de dinheiro, artistas boêmios.
A alma dos quadros do francês era uma bem sucedida parceria: a habilidade de Lautrec para misturar imagens debochadas de mulheres caricatas, às vezes vulgares, com uma aura de melancolia, resignação e autenticidade. Lautrec enxergou poesia na vida noturna marginal de bordéis e teatros de má fama nos quais eram comuns as apresentações de cancan. Sentia-se acolhido em um meio onde sua deficiência física não era tratada com o mesmo esnobismo dispensado pela classe alta. Em retribuição, pintou cenas inacessíveis que, aos olhos de outros artistas, pareciam mais insólitas ou escandalosas. Para Lautrec, a vida fazia sentido em um cabaré, em um palco.
Estados Unidos, século passado, década de 70. Da bem sucedida parceria entre o vocalista Erick Purkhiser (ou Lux Interior) e a guitarrista Kristy Wallace (ou Poison Ivy), nasce The Cramps. A dupla, sempre acompanhada por músicos que ao longo dos anos se revezaram nos demais instrumentos, teve habilidade suficiente para mesclar punk e rockabilly, gênero do rock que se destacou nos anos 50, com Bill Haley. Visual trash: roupas justíssimas de couro em Lux Interior, saias curtíssimas, meia-calça arrastão, pintura carregada no rosto das desinibidas roqueiras do Cramps. Em posters da banda, as poses da ruiva Poison Ivy nada ficam a dever à desenvoltura das divas de Lautrec (que nutria preferência por ruivas). As letras das músicas acompanham o espírito irreverente do grupo: desbocadas, fetichistas, picantes e divertidas. E se Toulouse-Lautrec sentia-se em casa no Moulin Rouge...o lar do Cramps foi o (também lendário) CBGB, clube de Nova Yorque onde tocaram bandas como Ramones, Television, Blondie. Porque, da mesma maneira que para Lautrec, a arte do The Cramps fazia sentido em um palco.
Henri de Toulouse-Lautrec pintava, mas não se envolvia em discussões intelectuais sobre arte. Explicou para um primo seu modo muito simples de encarar a atividade de criação. Vale para os dias atuais. "No nosso tempo, há muitos artistas que fazem as coisas, porque é novo; eles vêem neste fato de ser novo o seu valor e a sua justificação; enganam-se. O novo raramente é o essencial. Há apenas uma coisa que conta: fazer melhor uma coisa, partindo daquilo que ela é".
The Cramps não criou o rock. Mas fez ele melhor.

Tuesday, February 06, 2007

Quando a Arte vira Rock, Parte LIX




Djordje Prudnikov, Self-Portrait, e Peter Hook, baixista do New Order.

Thursday, February 01, 2007

O pintor, o físico e o rock star apaixonados



Quando um jornalista curioso perguntou a Robert Smith quem era Elise, reza a lenda que o líder do "The Cure" fechou a cara e deu a entrevista por encerrada.
"A Letter to Elise" é canção linda e triste do "The Cure" que está no disco "Wish". A letra fala de mágoas, desilusões, desencontros, de uma relação que terminou na frustração. Robert Smith casou-se em 1988 com Mary Poole. "A Letter to Elise" foi lançada como single em 1992. A identidade e a história de Elise permanecem secretamente guardadas na memória do vocalista e compositor. Que não quer falar dela.
Se Elise não tem rosto, a mocinha da pintura acima tem. "Girl with a Pearl Earring" é o quadro mais famoso do holandês Johannes Vermeer (1632-1675). Também chamado de "Mona Lisa do Norte" ou "A Mona Lisa holandesa". Vermeer tornou-se conhecido por retratar mulheres em casa, ocupadas em tarefas domésticas. Não existem registros históricos a respeito de quem foi (e o que foi) a menina de feições delicadas que parece virar-se para atender um repentino chamado de seu nome. Nome que um dia o pintor pronunciou, talvez cheio de sentimento. O mistério que envolve a obra gerou uma história fictícia, narrada no livro que levou o título da tela e que foi escrito por Tracy Chevalier. O romance ganhou uma adaptação para o cinema, filme que teve Scarlett Johansson no papel da jovem. Na mente de Chevalier, ela foi Griet, empregada adolescente da casa dos Vermeer. Encantado com a suavidade da moça, o apaixonado pintor a toma por modelo para seus quadros. O amor não se consuma. Vermeer era casado. A única oportunidade de que dispõe para tocar Griet é durante o momento em que fura sua orelha com o brinco de pérola pertencente à enciumada esposa (metáfora para a perda da inocência). O estado civil do pintor e a posição social de sua musa os separam.
Se o enredo inventado guarda alguma semelhança com a vida real, não se sabe. Mas a beleza do quadro sugere que a identidade e a história da moça do brinco de pérola marcaram o artista holandês.
Erwin Schrödinger nasceu em 1887, em Viena. Estudou e se formou em Física. A partir de 1921, passou a se interessar pela teoria quântica, publicando alguns trabalhos sobre a estrutura do átomo. O austríaco é hoje considerado um dos criadores da mecânica quântica, o pai da mecânica ondulatória. E sua bem sucedida carreira pode ser creditada a uma desconhecida. A uma mulher que não tem nome, como Elise, que não tem rosto, como a jovem de Vermeer. Ela passou algumas semanas na companhia do cientista, entre dezembro de 1925 e janeiro de 1926. Os dois se hospederam secretamente em um hotel nos Alpes suíços. Schrödinger era casado. Mas o motivo da discrição não era a necessidade de preservar o físico, que levava um casamento aberto (sua esposa sabia de seus casos e também mantinha uma ligação com um matemático amigo do cientista). Então, suspeita-se que a amante de Schrödinger era uma pessoa conhecida ou também casada (nos moldes tradicionais). O fato sensacional é que, ao longo dessas reservadas férias, o físico fez a descoberta que mudou sua vida. E os rumos da ciência. Logo após o final do encontro, Erwin Schrödinger retornou à sua universidade, em Zurique, carregando consigo os rascunhos de cinco estudos que apresentavam as bases da mecânica ondulatória. Eles foram o início dos trabalhos e pesquisas desenvolvidas pelo cientista que culminaram na distinção máxima: em 1933, foi contemplado com o Prêmio Nobel de Física, por sua contribuição à mecânica quântica. É mistério se a mulher desconhecida teve apenas papel de musa inspiradora ou se efetivamente ajudou o físico a desenvolver sua teoria. Mas não há dúvidas de que a moça nunca identificada mudou a vida do pesquisador.
Robert Smith, Vermeer e Schrödinger. Rock star, pintor e cientista apaixonados. E se o amor não deu certo, ao menos o sentimento motivou esses homens a tornar a música, a arte e a ciência ainda mais ricas. Sorte nossa.